Monday, November 12, 2012

A MAIS DURA MARATONA FOI A QUE NÃO FIZ

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A minha ING NYC Marathon 2012 começou em Dezembro de 2010. Sim, eu acredito que uma prova destas começa no dia que tomamos a decisão de a fazer e não com o tiro de partida. Eu decidi que queria correr a Maratona de Nova Iorque ainda em 2010, quando me inscrevi na lotaria da prova. Diz o regulamento que após 3 anos consecutivos sem sucesso, a organização garante uma entrada directa no quarto ano. Pois eu, fui um dos sortudos que ganhou a entrada logo na primeira tentativa.

Claro que neste tipo de empreitadas acontecem sempre imprevistos. Felizmente, o meu primeiro imprevisto (desportivamente falando) foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Pouco tempo depois de ter ganho o lugar tive que tomar a decisão de cancelar a minha inscrição: o meu filho estava a caminho. O seu nascimento estava previsto para poucos dias antes da prova e como tal, não ia correr e deixar a mulher com o nosso filho recém-nascido nos braços. Foi então com enorme felicidade que optei por fazer a Maratona de Lisboa nesse ano.

Quando chegou Dezembro de 2011, a organização da prova atribuiu, como de costume, a oportunidade de garantir a entrada nesse ano aos atletas que tinham cancelado as inscrições do ano anterior. Foi o que fiz.  E assim começava um ano inspirador. Para além da minha primeira época ao serviço do Peniche AC (o melhor clube do mundo) havia também a perspectiva de correr a famosa prova que termina no Central Park. 

A quatro meses da maratona, iniciei aquele, que eu considero hoje, o plano de treino mais rigoroso a que me submeti. Com o passar das semanas comecei a sentir melhorias significativas na minha corrida e aos poucos e poucos nasceu em mim um sentimento confiança muito grande. O plano de treino foi desenhado para 3h08m-3:12m, mas já acreditava que a maratona em sub-3 horas era possível.  Bater as 3 horas não é nada do outro mundo para grande parte dos atletas, mas para mim significava bater o meu melhor tempo em 17 minutos.

Mas eis que veio o Sandy e a partir daqui já todos sabem. O que não sabem é que na véspera de partir para NY o meu voo foi cancelado. No dia do voo, levantei-me com um feeling que não sei explicar e a primeira coisa que fiz foi ligar o computador para receber a notícia que afinal havia voo, mas com algumas horas de atraso. Fiz a mala à pressa e com adrenalina em alta. Durante o voo, tive o prazer de conhecer e trocar umas palavras com a simpática e tímida Dulce Félix.

Quando aterrei, recebi duas notícias: uma a dizer que o mayor de NY tinha dado uma conferência de imprensa a dizer que a prova se ia realizar e outra a dizer que a casa que eu tinha alugado estava sem luz e que não podia ia para lá. Meia dúzia de telefonemas e lá arranjei um teto para dormir com uma lâmpada, ligação à Internet e água fria. Na altura, lembro-me que pensei “não me posso queixar: estou em NY, tenho onde dormir e estou prestes a correr a Maratona”.

Era sexta à tarde, estava eu na famosa 5º avenida quando toca o telefone. Era a minha mãe que sem me deixar falar, dispara “Então filho, a prova foi cancelada?”. Em vez de ir para casa, fui para o pub.
Podia ter tido cãibras, um dor de barriga, torcido um pé, levado com o homem da marreta ou outra coisa qualquer. Agora, nem me deixarem partir é que não. Não posso negar que a desilusão foi grande, mas hoje reconheço que foi a decisão certa. Talvez, mal comunicada, talvez fora de tempo, mas a decisão certa e corajosa.

Para fazer o gosto ao pé, fiz 20km no Central Park na companhia dos restantes atletas portugueses, excepto da Dulce Félix que de imediato recebeu o treino enviado pela sua treinadora para fazer naquele dia, já a pensar no objectivo seguinte (e por falar nisso, ela venceu este domingo o corta-mato da Amora).

Durante essa corrida, discutíamos o tema e ponderávamos o que fazer a seguir. A mim, não me resta outra alternativa se não a Maratona de Lisboa, dia 09 de Dezembro. Hoje, confesso-me desmotivado, cansado e desinspirado. A voz sábia da mina mulher diz “porque não fazes apenas a meia-maratona?”. A minha voz teimosa responde “porque desistir não é opção, mesmo desmotivado, cansado e desinspirado”.

1 comment:

Hugo Gomes said...

Boas Pedro!

Situações destas são muito desagradáveis mas infelizmente acontecem.
Não há nada a fazer a não ser avançar e pensar na próxima...

Um abraço!