Tuesday, November 27, 2012

Fim de época

Quando grande parte dos atletas já prepara a próxima época, eu dou por encerrada a minha. É verdade que por esta altura devia estar a fazer os últimos preparativos para a Maratona de Lisboa, mas há uma semana que já não corro por causa de uma tendinite nos extensores do pé esquerdo. Hoje, quando fazia uma ligeira caminhada, tive que parar para aligeirar as dores. Desta forma, correr 42km daqui a uma semana e meia está fora de questão.

Vou aproveitar esta paragem forçada para recuperar forças, tratar da lesão e começar também eu a preparação para a época 2013 que se projecta cheia de desafios e para a qual me confesso aqui, muito entusiasmado.

Monday, November 12, 2012

A MAIS DURA MARATONA FOI A QUE NÃO FIZ

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A minha ING NYC Marathon 2012 começou em Dezembro de 2010. Sim, eu acredito que uma prova destas começa no dia que tomamos a decisão de a fazer e não com o tiro de partida. Eu decidi que queria correr a Maratona de Nova Iorque ainda em 2010, quando me inscrevi na lotaria da prova. Diz o regulamento que após 3 anos consecutivos sem sucesso, a organização garante uma entrada directa no quarto ano. Pois eu, fui um dos sortudos que ganhou a entrada logo na primeira tentativa.

Claro que neste tipo de empreitadas acontecem sempre imprevistos. Felizmente, o meu primeiro imprevisto (desportivamente falando) foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Pouco tempo depois de ter ganho o lugar tive que tomar a decisão de cancelar a minha inscrição: o meu filho estava a caminho. O seu nascimento estava previsto para poucos dias antes da prova e como tal, não ia correr e deixar a mulher com o nosso filho recém-nascido nos braços. Foi então com enorme felicidade que optei por fazer a Maratona de Lisboa nesse ano.

Quando chegou Dezembro de 2011, a organização da prova atribuiu, como de costume, a oportunidade de garantir a entrada nesse ano aos atletas que tinham cancelado as inscrições do ano anterior. Foi o que fiz.  E assim começava um ano inspirador. Para além da minha primeira época ao serviço do Peniche AC (o melhor clube do mundo) havia também a perspectiva de correr a famosa prova que termina no Central Park. 

A quatro meses da maratona, iniciei aquele, que eu considero hoje, o plano de treino mais rigoroso a que me submeti. Com o passar das semanas comecei a sentir melhorias significativas na minha corrida e aos poucos e poucos nasceu em mim um sentimento confiança muito grande. O plano de treino foi desenhado para 3h08m-3:12m, mas já acreditava que a maratona em sub-3 horas era possível.  Bater as 3 horas não é nada do outro mundo para grande parte dos atletas, mas para mim significava bater o meu melhor tempo em 17 minutos.

Mas eis que veio o Sandy e a partir daqui já todos sabem. O que não sabem é que na véspera de partir para NY o meu voo foi cancelado. No dia do voo, levantei-me com um feeling que não sei explicar e a primeira coisa que fiz foi ligar o computador para receber a notícia que afinal havia voo, mas com algumas horas de atraso. Fiz a mala à pressa e com adrenalina em alta. Durante o voo, tive o prazer de conhecer e trocar umas palavras com a simpática e tímida Dulce Félix.

Quando aterrei, recebi duas notícias: uma a dizer que o mayor de NY tinha dado uma conferência de imprensa a dizer que a prova se ia realizar e outra a dizer que a casa que eu tinha alugado estava sem luz e que não podia ia para lá. Meia dúzia de telefonemas e lá arranjei um teto para dormir com uma lâmpada, ligação à Internet e água fria. Na altura, lembro-me que pensei “não me posso queixar: estou em NY, tenho onde dormir e estou prestes a correr a Maratona”.

Era sexta à tarde, estava eu na famosa 5º avenida quando toca o telefone. Era a minha mãe que sem me deixar falar, dispara “Então filho, a prova foi cancelada?”. Em vez de ir para casa, fui para o pub.
Podia ter tido cãibras, um dor de barriga, torcido um pé, levado com o homem da marreta ou outra coisa qualquer. Agora, nem me deixarem partir é que não. Não posso negar que a desilusão foi grande, mas hoje reconheço que foi a decisão certa. Talvez, mal comunicada, talvez fora de tempo, mas a decisão certa e corajosa.

Para fazer o gosto ao pé, fiz 20km no Central Park na companhia dos restantes atletas portugueses, excepto da Dulce Félix que de imediato recebeu o treino enviado pela sua treinadora para fazer naquele dia, já a pensar no objectivo seguinte (e por falar nisso, ela venceu este domingo o corta-mato da Amora).

Durante essa corrida, discutíamos o tema e ponderávamos o que fazer a seguir. A mim, não me resta outra alternativa se não a Maratona de Lisboa, dia 09 de Dezembro. Hoje, confesso-me desmotivado, cansado e desinspirado. A voz sábia da mina mulher diz “porque não fazes apenas a meia-maratona?”. A minha voz teimosa responde “porque desistir não é opção, mesmo desmotivado, cansado e desinspirado”.